sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O Carnaval é o único fim-de-semana do ano?

Nota Prévia: A leitura deste artigo pode provocar um aumento dos seus níveis de colesterol. A gerência do blog não se responsabiliza nem oferece uma garrafinha de vinho para ajudar a diluir.

Após uma primeira tentativa falhada, os políticos que elegemos conseguiram finalmente acabar com o feriado não oficial do Carnaval. Mas isso não reduziu a energia frenética dos autarcas da região, que por vezes parecem pensar que só existe um fim-de-semana durante o ano.

Sim, chegaram as feiras dos queijos, enchidos e amendoeiras em flor, a que se juntam os festejos de Carnaval.

Então cá vai o roteiro, organizado de uma forma geográfica.

Começando por Seia, há a Feira do Queijo nos dias 1 e 2 de Março, Sábado e Domingo.


Percorrendo 15 quilómetros, chegamos a Gouveia, onde dia 2 de Março há a Feira do Queijo. Mas esta tem um atractivo, a presença de um Secretário de Estado! Que alegria!!


E agora, vamos para onde? Fornos de Algodres, que fica só a 18 km. Coisa estranha, aqui a feira vai ser no fim-de-semana seguinte, a 8 de Março! Assim vão conseguir juntar os clientes e produtores, fazendo uma feira de maior dimensão!


Mas quem não tiver encontrado o que queria em Seia ou Gouveia, não precisa de ficar triste. Basta fazer mais 15 quilómetros e chega a Celorico da Beira, onde a Feira começa já hoje, dia 28 de Fevereiro e acaba só no dia 3 de Março.


Trancoso é já ali ao lado, mas antes vamos até Aguiar da Beira. Até lá seriam 40 quilómetros por estradas bem bonitas, mas só precisamos de fazer 27 até à aldeia de Mosteiro, freguesia de Penaverde, onde dia 2 de Março há a 1.º Festa do Pastor e do Queijo.


De Mosteiro a Trancoso são mais 23 quilómetros, onde vamos encontrar a 11.º Feira do Fumeiro. Realiza-se nos dias 28 de Fevereiro a 2 de Março e novamente no fim-de-semana seguinte, 8 e 9 de Março. Esta feira costuma-se realizar sempre por esta altura (ultimo fim-de-semana de Fevereiro e primeiro de Março). Este ano com o Carnaval mais tardio veio coincidir com todas as outras feiras e festas.


Depois de tanto queijo e enchido, nada como ir ver a Natureza e fazer um passeio junto ao Douro. Vamos para Vila Nova de Foz Côa, que fica a 44 quilómetros, onde está já a decorrer a Festa da Amendoeira em Flor, de 21 de Fevereiro a 9 de Março. No Domingo, dia 2, até há um passeio de Cicloturismo, para abater as calorias!


Vamos passar o Douro e dar um pulinho a Trás-os-Montes. Primeiro passamos por Torre de Moncorvo, a apenas 18 quilómetros, onde as Festividades das Amendoeiras em Flor são a 13 a 19 de Março.


De seguida vamos até Freixo de Espada à Cinta, aquela terra esquecida, longe de tudo, mas que merece uma visita! Até lá são mais 40 km por belas estradas. As festas das Amendoeiras em Flor são também nos fim-de-semanas seguintes, a 8-9 e 15-16 de Março.


Voltamos às Beiras, atravessando o Douro em Barca d'Alva e chegamos a Figueira de Castelo Rodrigo. São mais 41 quilómetros bem demorados, mais pelas vezes em que é preciso parar para tirar fotografias do que pelas curvas apertadas da estrada. Aqui vamos encontrar a paisagem novamente branca, não da neve mas das amendoeiras. As festas são de 14 de Fevereiro até 9 de Março.


Pinhel fica na outra margem do Rio Côa, que podemos atravessar numa estrada que onde apetece circular bem devagar para ver a paisagem. São apenas mais 24 quilómetros para encontrar a 19.º Feira das Tradições, de 28 de Fevereiro a 2 de Março.


Até à Guarda, a capital do Distrito, são 36 quilómetros numa estrada renovada. Aqui o Carnaval também vai ser comemorado com várias iniciativas, que são bastante diferentes das que são feitas aqui à volta. O ponto alto é o Julgamento e Morte do Galo do Entrudo, uma tradição antiga recuperada nos últimos anos com bastante sucesso, onde a Praça Velha tem enchido de gente, mesmo que esteja a nevar como aconteceu em 2013. Veja aqui como foi em 2012 e 2011.


Da Guarda a Belmonte são só 27 quilómetros e voltamos a encontrar coisas boas! Há lá a 1.º Feira de Enchidos e Sabores, dias 1 e 2 de Março, incluindo um passeio de BTT para se poder ter pretexto para mais uma morcela!


Começámos em Seia, junto à Serra da Estrela. Alguns quilómetros (são mais 25 desde Belmonte) e muitas calorias depois, acabamos no coração da Serra, em Manteigas. Aqui há a Expo Estrela, de 1 a 4 de Março!


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Formação em Meteorologia de Inverno - Vítor Baía

Nós aqui pela Guarda temos algumas coisas especiais!

Uma dessas coisas são as previsões meteorológicas. Enquanto o resto do país, de um modo geral, tem que confiar nas previsões meteorológicas do agora chamado "Instituto Português do Mar e da Atmosfera", nós aqui temos direito a previsões muito melhores e quem têm em conta as diferentes particularidades de cada região.

São feitas por um senhor chamado Vítor Baía, que nos últimos meses já tem sido noticia em vários meios de comunicação social nacional.


O Vítor Baía é há muitos anos instrutor e praticante de parapente. É uma actividade que está muito dependente das condições meteorológicas completas, não bastando saber a temperatura e se chove ou não. Tinha muitas vezes de fazer vários quilómetros e perder dias, só sabendo na hora se podia voar ou não, por insuficiência de qualidade das previsões existentes. Começou assim a estudar o assunto por conta própria e a fazer as suas próprias previsões.

Foi evoluindo a aprendendo com os erros. Mais tarde começou a trabalhar com vários alpinistas, como o famoso João Garcia, fornecendo-lhes a partir da Guarda as previsões meteorológicas nos cumes que escalavam do outro lado do mundo, ajudando-os a escolher a data mais indicada.

Agora aqui na Guarda é nas previsões dele que confiamos, especialmente no Inverno, onde é essencial até por razões de segurança saber se vai nevar. Todos os dias milhares de pessoas consultam o site do Clube Vertical onde são publicadas as previsões diárias para a região da Serra da Estrela. E a página do Facebook, criada há poucos meses, já tem mais de 10.000 seguidores.

Por aqui no Instituto Português do Mar e da Atmosfera já ninguém confia. Não sei se por cortes no financiamento ou simplesmente por desleixo, já nem as Observações de Superfície estão disponíveis para nenhuma das estações do distrito da Guarda.


Quem quiser saber mais alguma coisa sobre previsões meteorológicas, tem agora uma oportunidade de ouro. No próximo dia 22 de Fevereiro, o Vítor Baía vai dar uma formação sobre Meteorologia de Inverno, no Instituto Politécnico da Guarda, a partir das 15:00. E ao contrário do normal neste tipo de formações técnicas, esta é quase gratuita, só 10 €, incluindo um lanche com castanhas e jeropiga! Quem se quiser inscrever veja aqui como.

Para quem não é de cá, é um óptimo pretexto para vir passar um fim-de-semana à Guarda e à zona da Serra da Estrela!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Reportagem na RTP sobre a Serra da Estrela

É difícil ver um programa na televisão, quando é transmitido logo a seguir ao sermão do engenheiro filósofo. É que nem sem som se aguenta....

Por isso, para quem como eu não viu, aqui fica o link para uma excelente reportagem sobre a Serra da Estrela.

Reportagem: Estrela Nevada de 09 Fev 2014 - RTP Play - RTP


Em 30 minutos, muitos assuntos são abordados. Os automobilistas que gostam de arriscar a vida deles e de quem os salva, o pouco interesse que a Torre tem comparando o resto da Serra, as novas empresas de turismo na natureza, o queijo e a vida difícil de quem vive da terra, o "negócio" da Turistrela, a neve que é mais problema que outra coisa, os novos hotéis de charme, o Burel e o imponente Cão da Serra.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

No Sabor nascem vias-rápidas e a posta ficou por Sabor(ear)

Aqui bem perto do Distrito da Guarda está a nascer mais uma grande barragem, junto à foz do Rio Sabor.

Rio Sabor nasce junto à fronteira entre Portugal e Espanha, na Serra de Montesinho/Gamoeda, e desagua junto a Torre de Moncorvo e Pocinho, no rio Douro, na povoação de Foz do Sabor.

Se é necessária ou se vai servir apenas para encher mais os bolsos de ex-governantes e de capitalistas chineses...é discussão do passado, pois está pronta e a começar a encher, ajudada pelas abundantes chuvas deste Inverno.

Tornou-se por isso urgente visitar o local, já agredido pelo paredão da barragem, mas ainda quase sem água armazenada.

Aproveitando um fim-de-semana sem outros programas, desafiei alguns companheiros do pedal para ir conhecer o vale do Sabor, num percurso por estrada.. O estado do tempo quase fez anular a visita, mas à ultima hora as previsões apontavam 12 horas sem chuva, precisamente no dia previamente marcado.

O percurso, a percorrer no sentido horário.
Arrancámos da Guarda, ainda o dia a nascer, com muito frio e alguma chuva. Começamos as pedaladas precisamente na aldeia de Foz do Sabor, com a água do Sabor quase a tocar no tabuleiro da ponte que lhe dá acesso. O tempo estava muito nublado, mas não parecia ameaçar chuva.

A partida na aldeia de Foz do Sabor
Muitas tangerinas para apanhar. Este é um vale muito fértil!
Local onde o Sabor se junta ao Douro. O Sabor vem da esquerda e o Douro corre lá do fundo, após passar a Barragem do Pocinho.
O primeiros 5 km eram planos, paralelos ao Sabor, até se atravessar a Ribeira da Vilariça e a N102. O ideal para aquecer os músculos e apreciar a paisagem plana, coisa rara por estes lados!

A paisagem junto à Foz do Sabor, zona muito fértil, com calor e água com fartura.
Um Coelho a fugir!
Lá vai ele!
Depois era preciso vencer a primeira grande subida do dia, quase até à aldeia de Estevais. Durante a subida podemos ver já os efeitos da subida das águas provocada pelo 2.º escalão da barragem, que fica mesmo junto à Foz. A ponte antiga da N102 já estava praticamente submersa.

A nova ponte da N102. Ainda é possível ver vestígios da antiga.
Apontando mais para a esquerda, lá vai o Sabor já transformado em Albufeira.

A vista após muitas curvas e contracurvas da sinuosa e bela M611

Num miradouro, com vista para o vale da Ribeira da Vilariça.
Já por terrenos mais planos, foi possível aumentar a média e passar por Estevais, Cardanha e Gouveia. Aqui havia a opção de virar à esquerda e seguir já para Alfandega da Fé ou virar à direita para ver as vistas sobre o Sabor. Apesar do mau piso da estrada, virámos à direita, onde passado pouco tempos encontrámos o escalão principal da barragem, que vai dar origem a uma mega-albufeira com 60 km de extensão.

A paisagem agredida pelas obras da Barragem. Em breve vai ser um lago enorme.
Durante algum tempo pedalamos junto ao vale do Sabor, que de tão fundo poucas vezes deixava ver o rio. Passámos pelas aldeias de Cabreira, Picões, Ferradosa e Sendim da Serra.

Monte, montes e mais montes.
O piso exigia atenção para evitar furos ou avarias piores.


Felizmente o presidente da câmara lembrou-se de nós e arranjou este tapete!
Monte, montes e mais montes. O Sol começa a espreitar lá ao fundo.

Com pouco mais de 40 km chegámos a Alfandega da Fé. A distância ainda era pouca, mas as subidas já faziam estragos. Paragem num café, onde ninguém queria comer, come-se uma barra para não perder mais tempo, mas afinal todos aconchegaram a barriga. E com o que veio a seguir, ninguém se arrependeu.

A saída de Alfandega da Fé seria a descer até à Ribeira de Escaria, pela N215 e depois N315. Até ao nó de ligação do IC5 o piso era bom, mas depois disso estava destruído, possivelmente pela passagem dos camiões que estão a construir uma nova ponte sobre a Ribeira de Escaria, que também vai ser afectada pela barragem. 

Logo na primeira curva com mau piso uma máquina de filmar é triturada. Um dos companheiros trazia uma máquina de filmar presa ao quadro da bicicleta, com a vibração no mau piso o suporte rodou e a máquina foi apanhada pelos raios da roda de trás. Por sorte não se magoou, mas perdemos vários minutos a apanhar os destroços, a procurar o cartão de memória e a endireitar a roda que ficou bem empenada.

Com cuidado fizemos o resto da descida, até encontrar finalmente a Ribeira de Escaria, onde a nova ponte está quase concluída.

A Ribeira de Escaria, com a nova ponte quase concluída. A ponte antiga está escondida lá atrás pelo tabuleiro da nova. A outra ponde lá atrás é do IC5.
A vista por cima da ponte antiga. 
Falei aqui do IC5? Que veio trazer o progresso e desenvolvimento a toda esta região? Ou a isolar ainda mais os seus habitantes?

Mas antes disso, todo o ciclista sabe que depois de atravessar um curso de água é preciso subir. Foi o que nos esperou, numa subida inclinada e onde o mau piso tornava tudo mais difícil. Para piorar as coisas, começou a chover, primeiro pouco, mas no final da subida fomos recebidos por um diluvio acompanhado de ventos fortes, que faziam as gotas da chuva parecer agulhas.

Junto à aldeia de Sardão a N315 iria juntar-se ao IC5 durante alguns quilómetros, na passagem do Rio Sabor. Nos mapas mais antigos essa passagem do Rio Sabor pertencia à N315, mas com a conclusão das obras do IC5 as estradas unificaram-se entre o nó de Sardão e Meirinhos.

O IC5 é uma via reservada a automóveis, onde as bicicletas não podem circular. Mas existem outras situações de IC e IP onde na passagem de pontes é permitida a passagem de veículos não automóveis, por não existirem outras alternativas para esse tipo de veículos ou para peões.

Infelizmente não é o caso do IC5, onde populações de aldeias que estão praticamente à vista umas das outras, estão separadas por 70 quilómetros de distância, caso queiram cumprir a lei e não tenham um automóvel, como acontece com muitos dos habitantes idosos desta região. Quem tem terrenos agrícolas nas 2 margens do rio também não tem como passar um tractor de um lado para o outro.

Logo que chegámos ao IC5 um funcionário da Ascendi avisou-nos que não podíamos aí circular. Perguntámos por alternativas, ele disse que não havia, teríamos que voltar para Alfandega da Fé.

Molhados até aos ossos e com a Ribeira do Escaria pelo meio, voltar para trás não era opção. Logo após a ponte sobre o Rio Sabor havia um acesso para uma aldeia, São Pedro. Dessa aldeia há uma estrada para Meirinhos, onde a N315 já está separada do IC5. Seriam apenas 3 km no IC5, sempre a descer, numa zona onde o limite de velocidade é 60 km/h e onde só passa um carro de minuto a minuto.

Rapidamente fizemos a descida até ao acesso a São Pedro, onde encontrámos até à aldeia um alcatrão novo em folha. Mas afinal a estrada que ligava São Pedro a Meirinhos era um caminho escabroso em terra batida, com muita pedra à mistura. Com as bicicletas de estrada teria de ser feito a pé, seriam cerca de 5 km.

Voltar para o IC5 significa fazer vários quilómetros nessa estrada, por uma grande subida, quer para um lado, quer para o outro. Ir a pé pelo caminho de terra batida iria demorar mais de uma hora. A solução foi pedir boleia a um simpático casal que ia para Meirinhos, onde seria possível apanhar um táxi e ir buscar os carros à Foz do Sabor.

Fiquei com outros 4 companheiros em S. Pedro à espera dos 2 que foram de táxi buscar o carro. Fomos à procura do forno comunitário, onde havia alguma lenha para acender uma lareira e tentar secar as roupas encharcadas.

A lareira a começar a deitar algum calor (e muito fumo).
Após algum desconfiança inicial, provocada pela invasão daqueles seres de bicicleta, capacete e roupas coloridas, os habitantes locais lá meteram conversa connosco. Passado pouco tempo já nos tinham oferecido pão, presunto, vários tipos de chouriço, azeitonas e um jarro de vinho caseiro! Quentes, de barriga cheia e com quem conversar sobre a vida em S. Pedro, a espera pelo resgate foi curta!

Pão, presunto, chouriços, azeitonas e vinho. O povo português  é mesmo hospitaleiro!


Além de conhecer o Sabor ainda selvagem, iríamos aproveitar esta volta para almoçar em Carviçais, freguesia de Torre de Moncorvo, famosa pelo seu festival de rock e pela Posta à Mirandesa servida nos restaurantes locais. A Posta à Mirandesa ficou por Sabor(ear), mas está prometido novo passeio por estes lados, com paragem obrigatória em Carviçais.

Ficámos também a conhecer as gentes simpáticas de S. Pedro, que apesar de terem uma via rápida versão PPP-Socrática à porta de casa, que custou e vai custar ainda muitos milhões, vivem isolados das aldeias vizinhas. Um desenvolvimento feito a pensar nos negócios de milhões, decidido nos escritórios de grandes empresas, mas que esquece os problemas das pessoas que se poderiam resolver com tostões.

Leia aqui outro relato do mesmo passeio: http://bikevassourateam.blogspot.pt/2014/02/giro-no-pedal-reconday-volta-da-posta.html

Nota acrescentada a 12-02-2014:
Sobre a utilização do IC5 por veículos não automóveis (bicicletas, tractores, ciclomotores, peões) na zona sem outras alternativas junto ao Rio Sabor, hoje ligaram-me da Câmara Municipal de Alfandega da Fé. A câmara e as juntas da zona estão a fazer pressão junto das Estradas de Portugal para que o IC5 seja aberto a todos. O problema é que é uma estrada concessionada à ASCENDI e terá de haver uma alteração ao contracto efectuado entre o Estado e essa empresa.
Mas esperam que o problema seja resolvido à mesma.
Mas quem quiser reclamar junto das Estradas de Portugal só irá ajudar, fazendo pressão para que as coisas mudem.